A palavra grega “martys” e seus termos afins “martyria, martyrion”, em geral são traduzidos em nossas Bíblias por testemunho.
De fato, era este o sentido que a palavra tinha no tempo em que a Bíblia foi escrita.
No entanto, desde o início do cristianismo percebemos que três elementos estão quase sempre unidos: testemunho, profecia e doação da própria vida.
Ainda que no AT o povo tenha sofrido muitas vezes por sua fidelidade à Aliança e ao Projeto de Deus, e que tantas pessoas tenham passado por inúmeros sofrimentos, o termo praticamente não existe no hebraico.
Sabemos, através de uma tradição judaica, que o Profeta Isaías foi morto devido à sua coragem profética, cujo corpo foi serrado ao meio, por ordem do iníquo rei Manassés.
No tempo da dominação grega sobre Israel, temos um exemplo de grande fé de Eleazar (2Mac 6,18-31), com idade avançada, que preferiu morrer a renegar a fé dos antepassados, deixando aos jovens o nobre testemunho de “como se deve morrer, entusiasta e generosamente, pelas veneráveis e santas leis” (2Mac 6,28).
Logo em seguida (2Mac 7) temos o belo exemplo da mãe e seus sete filhos que preferiram dar a vida a sujeitar-se aos dominadores estrangeiros!
O NT se abre com o anúncio profético. João Batista anuncia a vinda do Messias, prepara os caminhos e denuncia os opressores. Tudo isso vai lhe custar a vida (Mc 6,17-29).
João Batista foi o primeiro mártir do NT.
Os Atos dos Apóstolos narram também o primeiro martírio entre os seguidores de Jesus. Estêvão morreu sendo fiel à sua fé e aos ensinamentos do Mestre (At 7,55-60).
Seguiu-se uma grande lista, onde se inscreveram os nomes dos principais líderes que seguiram as pegadas de Jesus. O rei Herodes mandou matar à espada o Apóstolo Tiago (At 12,2). Pedro e Paulo, as duas colunas da Igreja, também sofreram o martírio, por ordem do imperador Nero.As comunidades cristãs foram perseguidas duramnte pelo império romano. Primeiro por Nero, mais tarde por Domiciano e outros imperadores que vieram em seguida. Muitos dos primeiros cristãos foram crucificados, queimados vivos, jogados às feras, torturados, presos e perseguidos de tantas formas…
A Igreja que nasceu, germinou marcada pelo derramamento do sangue inocente, daqueles que não tiveram medo de dar a vida pela causa da sua fé e do testemunho de Jesus Cristo.
O livro do Apocalipse relata a entrada triunfal, junto ao altar e ao trono de Deus, da multidão que tinha sido imolada por causa da Palavra deDeus e do testemunho que dela tinham prestado (cf. Ap 6,9). Porém, este número ainda não estava completo, significando que no decorrer da história seguinte mais pessoas dariam o testemunho. A multidão dos mártires recebeu a veste branca (Ap 3,4-5; 6,11), pois foram considerados dignos e testemunhas fiéis durante a sua ida. Serão vestidas agora com dignidade.Os impérios opressores que existiram na história continuaram deixando seus mártires. Seus projetos elitistas e imperialistas fizeram com que seus chefes continuassem a embriagar-se com o sangue dos mártires (cf. Ap 17,6).
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