O montanismo foi um movimento religioso que data do século II. Recebe esta designação em razão do ser fundador se chamar Montano, um sacerdote pagão da região da Ásia Menor chamada Frígia que se converteu ao cristianismo.
Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.), em sua “História Eclesiástica” (2003, p. 182), narra os fatos acerca de Montano e seu movimento da seguinte maneira:
“Diz-se haver certa vila da Mísia na Frígia, chamada Ardaba. Ali, dizem, um dos conversos recentes de nome Montano, quando Crato era procônsul na Ásia, tendo na alma excessivo desejo de assumir a liderança, dando ao adversário ocasião para atacá-lo. De modo que foi arrebatado no espírito, sendo levado a certo tipo de frenesi e êxtase irregular, delirando, falando e pronunciando coisas estranhas, e proclamando que era contrário às instituições que prevaleciam na Igreja, conforme transmitidas e mantidas em sucessão desde os primórdios. Mas quanto aos que aconteceu estarem presentes e ouvir esses oráculos espúrios, ficaram alguns indignados, censurando-o por estar sob a influência de demônios e do espírito de engano e por estar apenas incitando distúrbios entre a multidão.”
Apesar da importância histórica do relato acima, vale salientar que Eusébio seguiu as ideias teológicas de Orígenes, foi provavelmente bispo de Cesaréia, simpatizou com o arianismo, veio a aceitar a ortodoxia do Credo Niceno(Idem, p. 12). Sendo assim, é possível perceber a força de suas palavras contra Montano. A frase “falando e pronunciando coisas estranhas”, sugere a ideia do falar em línguas.
Sobre Montano, Olson (2001, p. 30) nos narra que ele reuniu um grupo de seguidores, construindo em Papuza uma comunidade. Duas mulheres, Priscila e Maximila, se uniram a ele para profetizar, alertando para o breve retorno de Cristo, e condenando os bispos e líderes como desprovidos de vida, corruptos e apóstatas. Montano e as duas profetisas, quando entravam em transe espiritual, falavam na primeira pessoa como se Deus, o Espírito Santo, falasse diretamente através deles.
Cairns (1988, p. 82-83) entende que na tentativa de combater o formalismo e a organização humana, e de reafirmar as doutrinas do Espírito Santo, Montano caiu no extremo oposto, concebendo fanáticas e equivocadas interpretações da Bíblia. O aspecto positivo do movimento foi que:
“O montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espírito de Deus. Infelizmente, estes movimentos geralmente se afastam da Bíblia, entusiasmados que ficam pela reforma que desejam. O movimento montanista foi e é aviso que a Igreja não esqueça que a organização e a doutrina não podem ser separadas da satisfação do lado emocional da natureza do homem e do anseio humano por um contato espiritual imediato com Deus.”
Escrevendo sobre os acontecimentos, Sherrill (2005, p. 102), enfatizando a sua perspectiva pentecostal, diz que o movimento foi prejudicado pelo aumento das línguas e de outros fenômenos carismáticos.
Olson (Idem, p. 31) e diz que a reação contra os abusos e excessos de Montanos e seus seguidores, a liderança da igreja procurou se apoiar cada vez menos em manifestações verbais sobrenaturais, como línguas, profecias e outros dons, sinais e milagres sobrenaturais do Espírito. As manifestações carismáticas, sendo agora identificadas com Montano, quase se extinguiram no decorrer da história.
Para Synan (2009, p. 34) e Olson (Ibidem), o principal motivo da rejeição do movimento não foi a presença dos dons, mas a afirmação de Montano de que as declarações proféticas estavam no mesmo nível de autoridade com as Escrituras.
A Igreja reagiu a estas extravagância, condenando o movimento no CONCÍCLIO DE CONTANTINOPLA, em 381, declarando que os montanistas deviam ser olhados como pagãos. TERTULIANO, um dos grandes Pais da Igreja, tornou-se montanista (CAIRNS, idem). Sherrill (Idem) afirma que IRINEUtambém aderiu ao movimento.
Com o montanismo, temos a primeira tentativa histórica do resgate do batismo com (no) Espírito Santo, da manifestação de línguas, profecias e dos demais dons extraordinários do Espírito.
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