A Igreja dos Mártires

Apesar de ser uma realidade desconhecida para muitos, o martírio não é algo que faz parte do passado da Igreja. No século XX foram martirizados mais cristãos do que a soma de todas as vítimas de perseguições religiosas nos 19 séculos anteriores da história da Igreja. A grande maioria dos mártires atuais deu a sua vida em países que enfrentaram revoluções de cunho marxista (tais como Espanha[1], Rússia[2], China), ou foram mortos pelo nazismo ou em países muçulmanos.

Apesar de ser uma realidade desconhecida para muitos, o martírio não é algo que faz parte do passado da Igreja. No século XX foram martirizados mais cristãos do que a soma de todas as vítimas de perseguições religiosas nos 19 séculos anteriores da história da Igreja. A grande maioria dos mártires atuais deu a sua vida em países que enfrentaram revoluções de cunho marxista (tais como Espanha[1], Rússia[2], China), ou foram mortos pelo nazismo ou em países muçulmanos.

Embora a Igreja continue tendo muitos mártires, seu grande número é desconhecido por praticamente todo o mundo católico, pois há um silêncio completo dos meios de comunicação social acerca da situação na qual estes cristãos se encontram. Na China, por exemplo, ainda hoje, muitas e muitas pessoas estão nas prisões pelo simples fato de serem cristãs.

No século XXI a perseguição continua. E a única razão para justificar tal perseguição é a fidelidade ao papa, à fé, à doutrina da Igreja. Porém, é quase impossível, para o mundo contemporâneo, entender ou aceitar a espiritualidade do martírio. Para que seja possível uma redescoberta da beleza de se testemunhar a fé com a própria vida, nada melhor do que lançar um olhar para a espiritualidade original do martírio e alimentar uma chama que precisa arder no coração de cada cristão: a disponibilidade para dar a própria vida pela fidelidade ao nome do Senhor Jesus. Ser mártir é testemunhar a fé até o fim.

Será que no Ocidente, marcado por uma corrosão dos corações e da vontade, fruto de um enorme relativismo, ainda hoje existe a possibilidade de o martírio ser vivenciado como um dom? Qual pessoa seria capaz de não trair a sua fé, tendo em vista que a palavra humana parece ter perdido completamente seu valor e sua importância?

Para explicar melhor a espiritualidade do martírio, como já acenado, o caminho mais seguro é olhar para o início da Igreja. Tudo começa com o testemunho de dois apóstolos que são chamados de fundamentos da Igreja: São Pedro e São Paulo. Como já é do conhecimento da grande maioria dos cristãos, os dois testemunharam a Cristo com o derramamento do próprio sangue em Roma. No caso de São Pedro, um dos sinais de que atestam tal acontecimento é o fato de que a Basílica de São Pedro, coração da Igreja, foi construída no sopé de uma colina chamada Vaticano, exatamente sobre o túmulo que conserva os despojos do Príncipe dos apóstolos.

O Vaticano está localizado numa região conhecida pelo vinho ruim que produzia e por ser um local inóspito, afastado do centro da cidade, habitat de lobos e ladrões. Nero, porém, resolveu fazer ali um circo, isto é, um local para corridas de cavalos, batalhas navais, lutas de gladiadores. O circo construído por Nero era oval e tinha no seu centro o obelisco de Heliópolis[3], com 300 toneladas, e ficava à esquerda da atual Basílica de São Pedro. São Pedro foi martirizado neste circo e seus restos foram sepultados na Via Aurélia, numa das ruas que passavam na lateral do circo, no sopé da colina chamada Vaticano.

Quando veio a época Constantiniana, o imperador mandou construir uma basílica sobre o túmulo de São Pedro. O altar do papa, ainda hoje, está exatamente acima do túmulo do apóstolo. O trabalho de Constantino para a realização da construção da Basílica testemunha a favor da veracidade dessa informação. Os cristãos tinham certeza absoluta de que ali era o túmulo de Pedro. Eusébio de Cesareia relata testemunhos de que, na via Aurélia se encontrava o túmulo de Pedro e que o túmulo de São Paulo ficava na via Ostiense.

“Conta-se que sob o reinado [de Nero], Paulo foi decapitado em Roma. E ali igualmente Pedro foi crucificado. Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até hoje atribuídos aos cemitérios da cidade. De igual modo assegura-o um eclesiástico, de nome Caio, que viveu no tempo de Zeferino, bispo de Roma. Ao discutir por escrito com Probo, chefe da seita dos catafrígios, fala acerca dos lugares onde foram depositados os despojos sagrados dos citados apóstolos, o seguinte: ‘Eu, porém, posso mostrar o troféu dos Apóstolos. Se, pois, queres ir ao Vaticano ou à via Ostiense, encontrarás os troféus dos fundadores desta Igreja'”.[4]

Mas não só do testemunho do martírio dos dois principais apóstolos a Igreja encontrou forças para vivenciar o martírio. São Policarpo, que segundo Tertuliano foi ordenado bispo pelo próprio apóstolo João, tem seu martírio narrado num dos relatos mais conhecidos pelos cristãos antigos. O texto diz o seguinte:

“O diabo maquinava muitas coisas contra eles; graças a Deus, porém, não prevaleceu contra nenhum deles (…) Numa sexta-feira, pela hora da ceia, guardas e cavaleiros, armados como de costume, tomaram consigo o escravo e partiram, como se estivessem perseguindo um bandido. Chegando pela noite, encontraram-no deitado num pequeno quarto do piso superior. Ele podia ainda fugir daí para outro lugar, mas não quis, e disse: ‘Seja feita a vontade de Deus’. Ouvindo que tinham chegado, ele desceu e conversou com eles, que ficaram espantados com a sua idade veneranda, com a sua calma, e com tanta preocupação por capturar um homem tão velho. Ele imediatamente mandou que lhes dessem de comer e beber à vontade e pediu que lhe concedessem uma hora para rezar tranquilamente. E lhe concederam. Então ele, de pé, começou a rezar, tão repleto da graça de Deus, que por duas horas ninguém pôde interrompê-lo. Os que o ouviam ficaram espantados, e muitos se arrependeram de ter vindo prender um velho tão santo.

Quando por fim terminou de rezar, lembrou-se de todos aqueles que tinha conhecido, pequenos e grandes, ilustres ou obscuros, e de toda a Igreja Católica espalhada por toda a terra. Chegando a hora de partir, fizeram-no montar sobre um jumento e o levaram para a cidade. Era o dia do grande sábado. Herodes, o chefe da policia, e seu pai Nicetas foram até ele. Fizeram-no subir ao seu carro e, sentando-se ao seu lado, procuravam persuadi-lo dizendo: ‘que mal há em dizer que César é Senhor, oferecer sacrifícios e fazer tudo o mais para salvar-se?’ De início, ele nada respondeu. Como insistissem, ele falou: ‘Não farei o que vós estais me aconselhando’. Não conseguindo persuadi-lo, lançaram-lhe todo tipo de injúrias, e o fizeram descer do carro tão apressadamente que ele se feriu na parte da frente da perna. Sem se voltar, como se nada tivesse acontecido, ele caminhou alegremente em direção ao estádio. Aí o tumulto era tão grande que ninguém conseguia escutar ninguém.

Quando Policarpo entrou no estádio, veio do céu uma voz, dizendo: ‘sê forte, Policarpo! Sê homem!’ Ninguém viu quem tinha falado, mas alguns dos nossos que estavam presentes ouviram a voz. Finalmente o fizeram entrar e, quando souberam que Policarpo fora preso, levantou-se grande tumulto. Levado até o procônsul, este lhe perguntou se era Policarpo. Respondeu que sim. E o procônsul procurava fazê-lo renegar, dizendo: ‘Pensa na tua idade’, e tudo o mais que se costuma dizer, como: ‘Jura pela fortuna de César! Muda teu modo de pensar e diz: ‘Abaixo os ateus!” Policarpo, contudo, olhava severamente toda a multidão de pagãos cruéis no estádio, fez um gesto com a mão, suspirou, elevou os olhos e disse: ‘Abaixo os ateus!’ O chefe da polícia insistia: ‘Jura, e eu te liberto. Amaldiçoa o Cristo!’ Policarpo respondeu: ‘Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como poderia blasfemar o meu rei que me salvou?’.

Ele continuava a insistir, dizendo: ‘Jura pela fortuna de César!’ Policarpo respondeu: ‘Se tu pensas que vou jurar pela fortuna de César, como dizes, escuta claramente: eu sou cristão. Se queres aprender a doutrina do cristianismo, concede-me um dia e escuta’. O procônsul respondeu: ‘Convence o povo!’ Policarpo replicou: ‘A ti considero digno de escutar a explicação. Com efeito, aprendemos a tratar as autoridades e os poderes estabelecidos por Deus com o respeito devido, contanto que isso não nos prejudique. Quanto a esses outros, eu não os considero dignos, para me defender diante deles’.

O procônsul disse: ‘Eu tenho feras, e te entregarei a elas, se não mudares de ideia’. Eu disse: ‘Pode chamá-las. Para nós, é impossível mudar de ideia, a fim de passar do mal à justiça’. O procônsul insistiu: ‘Já que não desprezas as feras, eu te farei queimar no fogo, se não mudares de ideia’. Policarpo respondeu-lhe: ‘Tudo me ameaças com um fogo que queima por um momento, e pouco depois se apaga, porque ignoras o fogo do julgamento futuro e do suplício eterno, reservado aos ímpios. Mas por que tardar? Vai, e faze o que queres’.

Dizendo isso e tantas outras coisas, ele permanecia cheio de força e alegria, e seu rosto estava repleto de graça. Ele não só não se deixou abater pelas ameaças que lhe eram dirigidas, mas o próprio procônsul ficou estupefato e mandou seu arauto ao meio do estádio para anunciar três vezes: ‘Policarpo se declarou cristão!’ A essas palavras do arauto, toda a multidão de pagãos e judeus moradores de Esmirna, com furor incontido, começou a gritar: ‘Eis o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nossos deuses! É ele que ensina muita gente a não sacrificar e a não adorar.’ Dizendo isso, gritavam e pediam ao asiarca Filipe que lançasse um leão contra Policarpo. Este respondeu que não lhe era lícito, pois os combates de feras já haviam terminado. Então unânimes se puseram a gritar que Policarpo fosse queimado vivo. Devia cumprir-se a visão que lhe fora mostrada: enquanto rezava, ele tinha visto o travesseiro pegando fogo, e dissera profeticamente aos fiéis que estavam com ele: ‘Devo ser queimado vivo’.

Então, as coisas caminharam rapidamente, mais depressa do que se pode dizê-las. Imediatamente a multidão começou a recolher a lenha e feixes tirados das oficinas e termas. Sobretudo os judeus se deram a isso com mais zelo, segundo o costume deles. Quando a pira ficou pronta, o próprio Policarpo se despiu, desamarrou o cinto, e ele mesmo tirou o calçado. Ele nunca fizera isso antes, porque sempre cada um dos fiéis se apressava a ser o primeiro a tocar-lhe o corpo; mesmo antes do martírio, ele já fora constantemente venerado pela sua santidade de vida. Imediatamente colocaram em torno dele o material preparado para a pira. Como queriam pregá-lo, ele disse: ‘Deixai-me assim. Aquele que me concede força para suportar o fogo, dar-me-á força para permanecer imóvel na fogueira, também sem a proteção dos vossos pregos’.

Então não o pregaram, mas o amarraram. Com as mãos amarradas atrás das costas, ele parecia um cordeiro escolhido de grande rebanho para o sacrifício, holocausto agradável preparado para Deus. Erguendo os olhos ao céu, disse: ‘Senhor, Deus todo-poderoso, Pai de teu Filho amado e bendito, Jesus Cristo, pelo qual recebemos o conhecimento de teu nome, Deus dos anjos, dos poderes, de toda a criação e de toda a geração de justos que vivem na tua presença! Eu te bendigo por me teres julgado digno deste dia e desta hora, de tomar parte entre os mártires, e do Cálice de teu Cristo, para a ressurreição na vida eterna da alma e do corpo, na incorruptibilidade do Espírito Santo. Com eles, possa eu hoje ser admitido à tua presença como sacrifício gordo e agradável, como tu preparaste e manifestaste de antemão, e como realizaste, ó Deus, sem mentira e veraz. Por isso e por todas as outras coisas, eu te louvo, te bendigo, te glorifico, pelo eterno e celestial sacerdote Jesus Cristo, teu Filho amado, pelo qual seja dada glória a ti, com ele e o Espírito, agora e pelos séculos futuros. Amém’.

Quando ele ergueu o seu Amém e terminou sua oração, os homens da pira acenderam o fogo. Grande chama brilhou e nós vimos o prodígio, nós a quem foi dado ver e que fomos preservados para anunciar esses acontecimentos a outros. O fogo fez uma espécie de abóbada, como vela de navio inflada pelo vento, e envolveu como parede o corpo do mártir. Ele estava no meio, não como carne que queima, mas como pão que assa, como ouro ou prata brilhando na fornalha. Sentimos então um perfume semelhante a baforada de incenso ou a outro aroma precioso.

Por fim, vendo que o fogo não podia consumir o corpo, os ímpios ordenaram ao carrasco que fosse dar o golpe de misericórdia com o punhal. Feito isso, jorrou tanto sangue que apagou o fogo. Toda a multidão admirou-se de ver tão grande diferença entre os incrédulos e os eleitos.”.

(Martírio de São Policarpo 3.7-16)

O relato do martírio de São Policarpo pode não ser exatamente preciso historicamente, mas uma riqueza nele é indiscutível: a expressão da fé da Igreja e o espírito dos mártires. Os primeiros cristãos pareciam ser muito corajosos, de uma forma quase inacreditável para o mundo atual, coragem que poderia ser interpretada como uma disposição de ser ferido numa batalha visando um bem maior. Santo Tomás mostrava que a virtude da coragem é própria dos homens, pois só eles podem se ferir. A pessoa corajosa põe em ordem os seus medos (ordo timoris), sendo que o maior medo é o de perder o céu. Uma coragem assim só pode ser um dom de Deus. O martírio, na realidade, parece ser para aqueles que foram escolhidos por Deus para tal destino e não para aqueles que se oferecem a ele.

A beleza do martírio também é testemunhada por Santo Inácio de Antioquia em sua ilustre carta aos Romanos:

“Não desejo que agradeis aos homens, mas que agradeis a Deus, como de fato o fazeis. Eu não teria outra oportunidade como esta de alcançar a Deus, e vós, se ficásseis calados, poderíeis assinar obra melhor. Se guardásseis o silencio a meu respeito, eu me tornaria palavra[5] de Deus. Se amais minha carne, porém, ser-me-á preciso novamente correr. Não desejeis nada para mim, senão ser oferecido em libação a Deus, enquanto ainda existe altar preparado, a fim de que, reunidos em coro no amor, canteis ao Pai, por meio de Jesus Cristo, por Deus se ter dignado fazer com que o bispo da Síria se encontrasse aqui (…)

Para mim, peçam apenas a força interior e exterior, para que eu não só fale, mas também queira; para que eu não só me diga cristão, mas de fato seja encontrado como tal (…)

Deixai que eu seja pasto das feras, por meio das quais me é concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras, para que me apresente como trigo puro de Cristo. Ao contrário, acariciai as feras, para que se tornem minha sepultura, e não deixem nada de meu corpo, para que, eu não pese a ninguém. Então eu serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo não vir mais o meu corpo. Suplicai a Cristo por mim, para que eu, com esses meios, seja vítima oferecida a Deus. Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado. Eles eram livres, e eu até agora sou um escravo. Contudo, se eu sofro, serei um liberto de Jesus Cristo e ressurgirei nele como pessoa livre. Acorrentado, aprendo agora a não desejar nada (…)

Possa eu alegrar-me com as feras que me estão sendo preparadas. Desejo que elas sejam rápidas comigo. Acariciá-las-ei, para que elas me devorem logo, e não tenham medo, como tiveram de alguns e não ousaram tocá-los. Se, por má vontade, elas se recusarem, eu as forçarei. Perdoai-me; sei o que me convém. Agora estou começando a me tornar discípulo. Que nada de visível e invisível, por inveja, me impeça de alcançar Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, lacerações, desmembramentos, deslocamento de ossos, mutilações de membros, trituração de todo o corpo, que os piores flagelos do diabo caiam sobre mim, com a única condição de que eu alcance Jesus Cristo.

Para nada me serviriam os encantos do mundo, nem os reinos deste século. Para mim é melhor morrer para Cristo Jesus do que ser rei até os confins da terra. Procuro aquele que morrei por nós; quero aquele que por nós ressuscitou. Meu parto se aproxima. Perdoai-me, irmãos. Não me impeçais de viver, não queirais que eu morra. Não me abandoneis ao mundo, não seduzais com a matéria quem quer pertencer a Deus. Deixai-me receber a luz pura; quando tiver chegado lá, serei homem. Deixai que seja imitador da paixão de meu Deus. Se alguém tem Deus em si mesmo, compreenda o que quero e tenha compaixão de mim, conhecendo aquilo que me oprime.

O príncipe deste mundo quer arrebatar-me e corromper o meu pensamento dirigido para Deus. Que ninguém dos que aí estão presentes o ajude. Colocai-vos do meu lado, isto é, do lado de Deus. Antes, colocai-vos do meu lado, isto é, do lado de Deus. Não tenhais Jesus Cristo na boca, desejando, ao mesmo tempo, o mundo. Que a inveja não habite em vosso meio. Mesmo se eu estiver junto de vós e vos implorar, não vos deixeis persuadir. Persuada-vos aquilo que vos escrevo. É vivo que eu vos escrevo, mas com anseio de morrer. Meu amor[6] foi crucificado, e não há mais em mim fogo vivo para a matéria. Dentro de mim há uma água viva, que murmura e diz: ‘Vem para o Pai’. Não sinto prazer pela comida e corruptível, nem me atraem os prazeres desta vida. Desejo o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo, da linhagem de Davi, e por bebida desejo o sangue dele, que é o amor incorruptível.

O texto de Santo Inácio de Antioquia vem confirmar a certeza de que a virtude principal do mártir é a fortaleza, ou seja, a coragem. Existe algo maior do que a vida, pelo qual vale à pena derramar o próprio sangue.

O mundo, porém, parece ter se esquecido dessa verdade. Por exemplo, um materialista é uma pessoa que não tem coragem, no sentido apresentado por Santo Tomás. O materialista não morre porque algo vale mais do que a vida. Quando morre é porque despreza a vida, porque não a vê como um valor. Os cristãos, ao contrário, não têm medo de perder a vida, porque sabem que a vida verdadeira só pode ser vivida ao lado de Deus. E, além do mais, é mais lógico morrer em nome da verdade do que levar alguém à morte. Mas, isso diz respeito apenas àqueles que crêem verdadeiramente que o sangue de Cristo, derramado na Cruz, é o único caminho para a salvação do ser humano.

Infelizmente, mesmo dentro do âmbito cristão “católico” atual, são muitos os que parecem ter se esquecido desta verdade. Em nome de um amplo diálogo religioso, também conhecido como macroecumenismo, buscam pouco a pouco relativizar o conteúdo da Revelação, chegando a considerar o Senhor Jesus como um simples arauto de valores importantes para a humanidade, desprezando toda sua obra de Redenção, visando colocar todas as denominações religiosas em pé de igualdade. Infelizmente, não é possível pensar outra coisa sobre estas pessoas a não ser que, com tal atitude, parecem estar rindo do sangue derramado pelos mártires para que a fé católica fosse preservada de todo erro e contaminação mundana.

Referências

  1. Numa homilia sobre os mártires cristãos vítimas da guerra civil espanhola, o Papa João Paulo II, ao comentar a presença de um grupo de jovens seminaristas entre eles, disse que “os seminaristas celebraram sua primeira missa com o próprio sangue”.
  2. Conta-se que o patriarca Tikhon, da Igreja ortodoxa da Rússia, fez um último pedido antes de ser levado à prisão: “Dê-me a graça de celebrar pela última vez a Divina Liturgia, na certeza de que por meio desse sacrifício o mundo será salvo”.
  3. Obelisco que hoje está localizado no centro da praça de São Pedro. Uma curiosidade: o navio que trouxe o obelisco do Egito para a Itália foi afundado na região de Óstia, servindo como dique, tamanha a dificuldade encontrada para manobrá-lo devido às suas proporções monstruosas.
  4. EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica, II, 25,5-7. Tradução da Paulus, já citada em aula anterior.
  5. Segundo o original grego. A tradução da Paulus opta pela seguinte alternativa: “se guardásseis o silêncio a meu respeito, eu me tornaria pertencente a Cristo”.
  6. Segundo o original grego. A tradução proposta pela Paulus é: “meu desejo terrestre…”
  7. Fonte:http://padrepauloricardo.org/aulas/a-igreja-dos-martires
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Publicado em História da Igreja, Patrística

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