A RAZÃO PRECISA DA FÉ?

O combate que o homem trava contra o mal excede infinitamente os meios da razão e da ciência. É o que demonstram fatos tão atuais como o racismo, a droga ou o álcool. Ou como todos esses terríveis crimes cometidos por totalitarismos ateus sistemáticos e pretensamente científicos ao longo do século XX: desde o genocídio nazista de Hitler até o de Pol Pot no Camboja, passando pelos do leninismo, do stalinismo ou do maoísmo.

O pior é que a maior parte desses crimes em massa foram cometidos em nome de teorias que, na sua época, receberam o aplauso de milhões de pessoas. Foram autênticos infernos fabricados por homens que procuravam um mundo perfeito que se bastasse a si mesmo e já não tivesse necessidade de Deus.

E assim como, lendo Lênin, se podia notar que os direitos do indivíduo não iam ser respeitados num sistema comunista, do mesmo modo, estudando as premissas da Ilustração, viu-se claramente que a Modernidade não atenderia às necessidades globais do ser humano. Não basta a razão para que uma sociedade seja justa, solidária e equilibrada. Para que haja equilíbrio na pessoa e na sociedade, é preciso atender, juntamente com a razão, à vontade e à sensibilidade. A pessoa e a sociedade devem ter por objetivo procurar o bem, a verdade e a beleza; e isso significa falar de vontade, inteligência e sentimentos; e, por sua vez, de ética, de ciência e de arte. Quando se idolatra um método da inteligência, como é a razão, sem elevar à sua altura a ética e a estética, desequilibram-se o indivíduo e a sociedade. Esse foi o fracasso da Ilustração.

Fracassou por ter pensado que da razão deriva automaticamente a ética, coisa que se demonstrou falsa ao ser confrontada com a realidade. A razão não pode ser salva pela razão. Isso seria ilusório. Esses crimes demonstraram o que o homem pode chegar a fazer. E vimos co, mo a , razão não os impediu.

Os ilustrados pensavam que, mostrando ao homem o que é racional, este o adotaria, e a razão seria suficiente para organizar a sociedade. Mas não foi assim. Não basta proclamar o que é racional para que os homens o pratiquem.

O comportamento humano está cheio de sombras e de matizes alheios à razão, que desembestam cada qual por sua conta movendo as molas da vontade e do coração. Reconhecer os perigos que a razão encerra – afirma Jean-Marie Lustiger – é salvar a sua honra. Conceber a razão como a grande soberana, independente do bem que o homem deve procurar, é mais ou menos como pôr-se nas mãos de um computador: é um instrumento muito capaz, processa grande quantidade de dados que toma do exterior, todo o seu desenvolvimento é perfeitamente lógico, mas alguém tem de garantir que está bem programado. A verdadeira fé é um guia insubstituível, pois a razão pode extraviar-se.

Não quero, com isto, menosprezar a razão, antes pelo contrário. A razão é uma das mais nobres capacidades que distinguem a espécie humana, e alegra-nos ver os seus triunfos, bem como as conquistas da ciência e a sua luta por construir um mundo melhor. Mas convém nunca esquecer a limitação humana, e igualmente a ordem natural imposta por Deus, que permite ao homem preservar a sua dignidade e evitar muitos erros.

A história está cheia de cadáveres ideológicos, e ninguém acha estranho encontrá-los perfeitamente alinhados quando olha para trás com a disposição de aprender. E, entre eles, espalhados ao longo dos séculos, pode-se ver toda uma legião de profetas que foram anunciando – sobretudo nos últimos duzentos anos – o próximo e definitivo desaparecimento da religião e da Igreja.

No entanto, a história mostra que são precisamente aqueles que, com tanta paixão, lançam essas condenações e essas profecias os que desaparecem uns após outros, enquanto a Igreja continua adiante depois de dois mil anos, e a religiosidade continua a ser uma constante em todas as civilizações de todos os tempos.

A Igreja, que presenciou catástrofes que varreram impérios inteiros, testemunha pela sua mera subsistência a força que palpita nela. “Os povos passam – observava Napoleão –, os tronos e as dinastias desmoronam-se, mas a Igreja permanece”. É uma realidade que leva a pensar que o fato religioso faz parte da natureza do homem, e que a Igreja está animada de um espírito que não é de origem humana.

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Publicado em Ciêcia e Fé

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