Muitos querem realmente entender porque a bíbia protestante contém menos livros que a católica. Qual seria a verdadeira? Por que Lutero retirou os livros que não concordava e que tipo de critérios estabeleceu? Abordaremos esse assunto a seguir.
No século I d.C. começaram a aparecer os livros cristãos que se apresentavam como a continuação dos livros sagrados dos judeus. Estes, porém, trataram de impedir a aglutinação de livros judeus e cristãos. Assim, reuniram-se no ano 100 d.C. para estabelecer critérios que caracterizassem os livros inspirados por Deus:
. O livro sagrado não podia ter sido escrito fora de Israel.
· Não em língua aramaica ou grega, mas somente em hebraico.
· Não depois de Esdras (458-428 a.C.)
· Não em contradição com a Torá.
Assim, os judeus da Palestina definiram seu cânon. No entanto, em Alexandria (Egito) havia próspera colônia judaica que não adotou esses critérios nacionalistas. Estes judeus chegaram a traduzir os livros sagrados hebraicos para o grego em 250 a 100 a.C.(versão grega dita “Alexandrina” ou “dos Setenta”). Essa edição grega da Bíblia continha livros que os judeus da palestina não aceitaram, mas que os de Alexandria liam como Palavra de Deus. São eles: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico, 1 e 2 Macabeus, além de Ester 10,4-16,24 e Daniel 3,24-90 e 13-14.
Havia 2 cânones entre os judeus no início da era cristã: o restrito da Palestina e o amplo de Alexandria. Ora, acontece que os apóstolos, ao escreverem o NT em grego, citavam o AT, usando a tradução grega de Alexandria, mesmo quando esta diferia do texto hebraico. Este fato pode ser comprovado pelas seguintes passagens: Mt 1,23 com Is 7,14; Hb 10,5 com Sl 40,7; At 15,16 (Am 9,11s) e outros. O texto grego tornou-se comum entre os cristãos e o cânon amplo, incluindo os 7 livros citados, passou para o uso dos cristãos.
Verifica-se ainda que nos escritos do NT há citações implícitas desses livros: Rm 13,1 com Sb 6,3; Mt 27,43 com Sb 2,13.18; Ap 8,2 com Tb 12,15 e outros. Por outro lado, deve-se notar que livros aceitos por todos os cristãos como canônicos (a saber, Eclesiastes, Ester, Cântico dos Cânticos, Esdras, Neemias, Abdias e Naum) não são, nem implicitamente, citados no NT.
Nos mais antigos escritos patrísticos são citados esses 7 livros como Escritura Sagrada. Clemente, em 95, na epístola aos Coríntios cita Jt, Sb e fragmentos de Dn, Tb e Eclo. O Pastor de Hermas, em 140, faz amplo uso de Eclo e 2Mac (cf. Semelh. 5,3.8; Mand. 1,1…). Hipólito, em 235, comenta o livro de Daniel com os fragmentos, cita como Escritura Sagrada Sb, Br e utiliza Tb e 1 e 2 Mac.
Nos séculos II/IV houve dúvidas entre os escritores cristãos, pois alguns se valiam da autoridade dos judeus de Jerusalém para hesitar. Finalmente, prevaleceu na Igreja que o cânon do AT deveria seguir o de Alexandria, adotado pelos apóstolos. Sabemos que, das 350 citações do AT no NT, 300 são tiradas da versão grega. Assim, Os Concílios de Hipona (393), Cartago III (397), Cartago IV (419) e Trulos (692) definiram sucessivamente o cânon amplo como sendo o da Igreja. Esta definição foi repetida nos Concílios de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870).
No século XVI, porém, Martinho Lutero (1483-1546), querendo contestar a Igreja, resolveu adotar o cânon dos judeus da Palestina. É por isso que a Bíblia dos protestantes não têm os 7 livros e os fragmentos que a Bíblia católica possui. Estes livros eram tão usados pelos cristãos, que o próprio Lutero os traduziu para o alemão em 1546. As Sociedades Bíblicas protestantes até o séc. XIX incluíam esses livros em suas edições. Os próprios rabinos serviam-se do Eclesiástico até o séc. X como Escritura Sagrada. 1Mc era lido na festa de Encênia. Baruque era lido nas sinagogas no séc. IV d.C.
O Catálogo dos livros do NT também foi controvertido na Igreja antiga, mas hoje é unanimemente reconhecido por todos os cristãos. Os livros controvertidos foram: Hb, Apc, 2Pd, Jd e 2/3Jo.
Porém, em 8 de outubro de 393 o Concílio de Hipona definiu, pela primeira vez, o cânon completo da Bíblia, que é a mesma professada hoje pela Igreja católica.
Dom Estevão Bettencourt
Apostila do Mater Ecclesiae: Curso Bíblico
NOTA IMPORTANTE:
Agora vejam vocês. Os protestantes, que nasceram somente no início da reforma em 1517, tinham os livros sagrados em mãos. A pergunta que faço é: quem guardou os livros do Novo testamento, por exemplo, defendendo-os com veemência durante séculos, desde a época dos apóstolos? Por acaso esses livros cairam do céu? Claro que não! A Igreja Católica, que nasceu muito antes da Bíblia, foi quem a guardou com “unhas e dentes” das garras daqueles que queriam usurpar e minar a fé cristã. Se hoje os protestantes têm a bíblia em mãos e a carrega debaixo do braço, eles devem graças aos Bispos da Igreja Católica.
A razão porque alguns livros foram retirados da bíblia protestante é que ensinam doutrinas católicas que os protestantes rejeitam. Acima citamos um exemplo onde a carta aos Hebreus nos mostra um exemplo do Antigo Testamento contido em 2 Mac 7, um incidente não encontrado em nenhuma Bíblia protestante, mas facilmente localizada na Bíblia católica.
Porque Lutero teria retirado este livro se ele claramente serviu de fonte para aquela parte do Novo Testamento? Simples: alguns capítulos mais adiante o livro apóia a prática da oração às almas dos mortos para que sejam purificados das conseqüências dos seus pecados (2 Mac 12,41-45); em outras palavras, a doutrina católica do purgatório. Desde que Lutero rejeitou o ensino histórico do purgatório (que data de antes de Cristo, como mostra o livro de Macabeus), ele teve que retirar este livro da Bíblia e colocá-lo como apêndice. (Note que ele também retirou Hebreus, o livro que cita 2 Macabeus, e o colocou também como apêndice)
Para justificar esta rejeição a livros que estavam na Bíblia desde tempos antes dos apóstolos (a Septuaginta foi escrita antes dos apóstolos), os primeiros protestantes recorreram ao fato de que os judeus daqueles dias não honraram tais livros, retornando assim ao Concílio de Jâmnia. Mas os reformadores estavam atentos apenas aos judeus europeus; não prestando a devida atenção aos judeus africanos, como os etíopes, que aceitavam os deuterocanônicos como parte de sua Bíblia. Eles censuraram as referências ao deuterocanônicos no Novo Testamento, assim como seu uso da Septuaginta. Ignoraram o fato de que existiam múltiplos cânons judaicos circulando no primeiro século, apelando a um Concílio judaico pós-cristão que não possuía nenhuma autoridade para com os cristãos para se falar que “os judeus não aceitaram estes livros”.
E o mais interessante é que Lutero amaldiçoa e chama de satânicos esses mesmos judeus, de onde ele retirou a bíblia dele. Foi graças a influência dele que surgiu o nazismo na Alemanha. Ele que introduziu o ódio aos judeus no mundo protestante. E tem gente que ainda defende esse ser abominável que foi lutero.