A salvação nos vem pela prática de boas obras ?

Eu vi no Facebook dias atrás uma gravura com frases de teólogos renomados entre os protestantes e também de Calvino, Lutero etc.



Vejam a figura e depois voltamos pra conversar sobre ela:

O curioso é ver pessoas que batem e esperneiam quando falamos de obras terem que reconhecer – publicamente! – que sem elas (as obras, hehe) não tem conversa. Não há como se dizer cristão genuíno se você não tem obras, meu caro.

Certo dia eu li num site protestante – bem conhecido – que  “Os católicos acreditam que a salvação vem pela prática de obras; aquelas outras dizem que as obras não salvam, mas sustentam a salvação. Tal mãe tais filhas Ap 17:5. O crente verdadeiro reconhece o seu dever da prática do bem, em obedecer as orientações de Deus através da sua palavra. Ele está plenamente consciente de suas obrigações de servo de Jesus Cristo. Tudo isto por ser um salvo.”

Bom, nada pode estar mais longe da verdade. Há uma falácia aí, acusações gratuitas e depois tentativas de emendar e mostrar conformidade ao ensino neo-testamentário sobre fé e obras. Tudo em vão. Vejamos:

Ele começa AFIRMANDO que acreditamos que a salvação nos vem pela prática de boas obras. Uma meia verdade é uma mentira completa.

  1. Paulo nos ensina “Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus.” (Rm 5,2)

Que graça S. Paulo fala? A salvação. E diz: “na qual estamos firmes”. Isso nos lembra o mesmo S. Paulo: “aquele que está de pé, cuide-se para não cair” (1 Co 10,12). Se estamos firmes é para não cairmos dessa graça – a salvação!

E, claro, precisamos de fé para receber tal graça:

“Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.” (Mc 16,16)

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram.” (Hb 11,6)

Mas as Sagradas Escrituras e o NT não param por aí. Precisamos da fé, claro! Mas o que é a fé senão “decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um acto da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita.” (Carta Apostólica Porta Fidei, Papa Bento XVI)

Veja que a fé é uma decisão de viver (obras) com Deus.

Como fala S. Tiago, a fé sem obras é morta (Tg 2,14.17.20) e não nos justifica. A fé que justifica VEM OBRIGATORIAMENTE seguida de boas obras. Daí que é falacioso dizer que os católicos pregam que a salvação vem pela prática de boas obras. Oras, a Escritura afirma a necessidade das boas obras se alguém se diz seguidor de Nosso Senhor.

“Se invocais como Pai aquele que, sem distinção de pessoas, julga cada um segundo as suas obras, vivei com temor durante o tempo da vossa peregrinação.” (I Pe 1,17)

Agora por que isso? Porque, ao contrário do que ensinam os protestantes, a salvação (justificação, santificação, etc.) não é estanque. Ou seja: não acontece a justificação agora, nesse instante e depois, só bem depois, a santificação. Não. Elas são concomitantes. Abordarei isso com mais vagar em uma série de artigos que está sendo preparada exatamente para por esse tema nas suas luzes devidas. E como a salvação não é algo estanque e isolado, a Escritura nos adverte: trabalhai na vossa salvação com tremor e temor (Fl 2,12)

Por isso S. Paulo nos alerta: “É pela incredulidade que foram cortados, ao passo que tu é pela fé que estás firme. Não te ensoberbeças, antes teme. Se Deus não poupou os ramos naturais, bem poderá não poupar a ti. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, bondade para contigo, suposto que permaneças fiel a essa bondade; do contrário, também tu serás cortada.” (Rm 11,20b-22)

Vemos então que essa falácia não encontra abrigo nas Escrituras.

Agora, vamos voltar àquela figura. Vê-se que o caráter dessas frases acima é curioso. Elas contêm em si um caráter literário forte, cujo fim é admoestar OBRAS, e não a fé, conforme o Sola Fide. Fica patente a contradição especulação-prática, o que caracteriza aquilo que Olavo de Carvalho chama de paralaxe cognitiva. Se se admoesta obras, por que não se faz no método de acordo com a própria teologia? Porque as obras, segundo o protestantismo são inúteis à vida eterna. É apenas consequência da fé. Por que admoestar a consequência (obras), e não o fundamento (fé)? Fica patente que o protestante vive, especulativamente, que a fé é causa eficiente das obras, mas vive como ele se ele próprio desse causa a elas por sua vontade. Pior são aqueles protestantes que tomam a fé como obra… Esses se aproximam dos gnósticos.

Tudo isso demonstra que o protestantismo, ao se fundar no método occamiano (Lutero se dizia seguidor de Ockham), não possui nem sequer uma base ontológica para separar fé de obras, em sua expressão antropológica, já que ambas são abstrações retiradas das Sagradas Escrituras sem reflexões de como agem na ordem criada.

Chega a ser engraçado vê-los cobrar uma vida de santidade, de OBRAS. Oras, porque dizer – como Calvino – que não podemos descansar nas promessas de Deus se não observamos os seus mandamentos? Se as obras são meramente consequência, algo acessório, não há o menor sentido em focar na sua necessidade para o crente. Afinal, com elas ou sem elas ele seria salvo, não é? Mas, curiosamente, eles precisam deixar o discurso bonito e fofo de que somente a fé basta, para tentar levar pessoas a uma vida piedosa, já que teoria não muda a nossa vida, mas precisamos fazer violência a nós mesmos (1 Co 9,27) e buscar a nossa santificação, pois sem ela ninguém verá a Deus (Hb 12,14)! Como diz Santo Agostinho, o Doutor da Graça: “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”. O célebre Sto. Agostinho, tão falado e celebrado por protestantes, mas tão pouco seguido pelos mesmos em seus ensinos e na sua doutrina. Bem fariam os protestantes em ouvir mais o grande e santo bispo de Hipona.

Como diz S. João no Apocalipse: Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa (Ap 3,11)!

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