Liturgia, entre o sagrado e o profano

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Geraldo Trindade

O que é o sagrado dentro do contexto pós-moderno que vivemos? Qual o espaço que ele ocupa dentro do profano da vida? Estas distinções são traiçoeiras e muitas vezes, corre-se o risco de pecar por serem rasas.

O sagrado é Deus em si; pois Ele é o criador. De Deus viemos e para Ele retornaremos. Isto é, tudo lhe pertence. “Cristo  ontem e hoje… Princípio e fim … Alfa e ômega… A Ele o tempo e a eternidade…A glória e o poder… Pelos séculos sem fim. Amém”. Nós, seres humanos, somos criaturas. Reconhecer esta condição é propiciar que sejamos capazes de crescer e estabelecer com Deus um relacionamento marcado pela intimidade.

Recorda-nos São Paulo, “não somos filhos de uma escrava, mas filhos de uma mulher livre. Cristo nos libertou para que fossemos realmente livres.” (Gl 4, 31 – 5,1). Resgatados para uma condição de filhos de Deus tornamo-nos Povo Régio e Sacerdotal.  “Vós, porém, constituís uma geração escolhida, um sacerdócio régio, uma gente santa, um poço conquistado, a fim de proclamar as grandezas daquele que das trevas vos chamou para a sua luz admirável. Outrora não éreis objeto de misericórdia. Agora sim, sois objeto de misericórdia” ( 1Pe 2, 9-10). Nas vicissitudes da história e da vida cada cristão é convidado a reconhecer a gratuidade do amor. Se assim caminha passa-se a elevar a Deus um “cântico novo” (Sl 33,3) que brota dos lábios como expressão de louvor ao Criador.

A liturgia que em grego leit (de ‘laós’, povo) e urgia (de érgon, ação, obra). Assim a liturgia é uma ação, obra que se realiza em favor do povo, da comunidade, da vida das pessoas. Para os cristãos, é atualização da entrega de Cristo para a salvação. A liturgia faz o memorial da entrega redentora de Cristo na cruz. Através da ação litúrgica se é inserido nas realidades da salvação. Dessa forma, percebe-se claramente a raiz cristológica da liturgia. Cristo rompe um simples ritualismo e faz a liturgia um “culto agradável e perfeito” ( Rm 12, 1-2). Porém, a liturgia não se restringe a uma realidade de espaço e tempo determinado, mas prolonga-se como experiência vital. E mesma a liturgia conduzida pelo ritual advém de uma experiência transcendental dos antepassados e dos contemporâneos. Ela é meio do qual Deus se utiliza para expressar plenificamente todo o realismo de Sua Palavra e de Sua carne. Por isso, é preciso educar-se para aprender dEle a bem viver e nos alimentar dEle.

A liturgia da criação é “quebra” e “extensão” de um silêncio criador. “A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam o abismo, mas o espírito de Deus paira por sobre as águas” (Gn 1, 2). A celebração litúrgica é acolhida, como filhos de Deus do supremo Mistério Pascal (vida, morte e ressurreição do Senhor). É realidade antiga e nova, capaz de atrair mentes e corações, invade e toca a nossa realidade, transforma e convida a lançar nossa vida. O memorial da Nova Aliança torna-nos participantes da vida de Cristo, homens e mulheres, renascidos a partir do novo Adão, que liberta das fragilidades do pecado.

A partir de Cristo a realidade e a humanidade não pode mais ser vista como profana. Elas trazem em si uma reserva de sacralidade. “No princípio existia o Verbo, o Verbo estava voltado para Deus, e o Verbo era Deus.  O Verbo estava, pois, voltado para Deus  no começo. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada se fez de tudo o que foi criado” (Gn 1, 1-2). O universo é acolhida e morada do Altíssimo. Por isso, somos eminentemente espirituais e como criaturas, tendemos para estar com o Criador. O sagrado, Cristo, dignou-se assumir o profano, a humanidade (Fl 2, 5-11), a fim de que a humanidade encaminhasse para o que há de mais sagrado Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre (Hb 13, 8).

 

Nosso coração humano volta-se naturalmente para o que é bom, belo e verdadeiro, Cristo, o Belo Pastor. A liturgia é a extensão mais digna da Palavra de Deus. Ela indica a Presença de Jesus e do Evangelho em ritos, orações e símbolos. Ela é convite para participar da vida divina vivendo ainda a vida humana, ela quer nos conduzir do visível ao Invisível, proporciona a união entre a Terra, nossa origem e o Céu, nossa origem primeira.

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