A prática de promessas feitas a Deus ou aos santos tem fundamento na Sagrada Escritura (cf. Gn 28,20-22; 1Sm 1,11)

 Procissão do Círio de Nazaré em Belém do Pará. Os devotos pagam promessas segurando a corda do sírio, levando nas costas objetos representando as graças alcançadas e etc...

 
Contudo verifica-se que os autores bíblicos faziam advertências aos fiéis no sentido de não prometerem o que não pudessem cumprir (cf. Ecl 5,4).

No Novo Testamento, São Paulo quis submeter-se às obrigações do voto do nazireato (cf. At 18,18; 21,24). Portanto, a prática das promessas como tal não é má.


É certo, porém, que as promessas não obrigam a Deus Nosso Senhor a conceder, obrigatoriamente, o que se lhe pede, pois nem sempre aquilo que é solicitado fará bem à santificação da pessoa.

Nesse caso, a Bondade divina – que nunca deixa de atender nossos pedidos, sobretudo se feitos por intermédio de Nossa Senhora  –  atende-os da forma que for mais conveniente ao fim para o qual nascemos: conhecer, a amar e servir a Deus aqui na terra e assim salvar nossa alma.

Algumas pessoas não têm noção clara do porquê das promessas ou prometem sacrifícios que elas acabam não podendo cumprir.

Daí surgem duas obrigações para quem tem o encargo de orientar as almas:

 

1) Mostrar-lhes que as promessas não se destinam a dobrar a vontade de Deus, como se Senhor Jesus Cristo pudesse ver-se obrigado a atender pedidos dos quais provenham com efeitos maus para quem solicita. O próprio Nosso Senhor nos ensinou: “Se for possível, afaste de mim esse cálice”;

2) Procurar incutir confiança, força e perseverança, com a noção de que o católico é filho de Deus, Nossa Senhora é nossa Mãe,  e, por isto, devemos rezar com um amor filial.

A Sagrada Escritura nos mostra pessoas que, em situações difíceis, prometeram fazer algo, caso fossem ajudadas pelo Senhor.

Por exemplo, Jacó ao fugir para a Mesopotâmia, exclamou:
Se Deus for comigo, se me proteger na viagem que empreendi, e se me der pão para comer, e vestido para me cobrir, e eu voltar felizmente à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus, e esta pedra, que erigi em padrão, será chamada casa de Deus; e de todas as coisas que me deres te oferecerei o dízimo” (Gn 28, 20-22).
Ana, mãe de Samuel, era estéril e fez a seguinte promessa:
“Senhor dos exércitos, se vos dignardes olhar para a aflição da vossa serva e… lhe derdes um filho varão, eu o darei ao Senhor durante todos os dias de sua vida e não passará navalha sobre a sua cabeça” (1Reis 1,11).
A própria Escritura Sagrada chama a atenção com respeito à prudência necessária no tocante às promessas: “É muito melhor não fazer promessas do que, depois de as fazer, não as cumprir” (Eclesiastes 5,4).

Havia também quem quisesse cumprir as suas promessas oferecendo o que tinha de menos digno ou valioso.

É o que observa o Senhor por meio do profeta Malaquias:


“Trazeis animal roubado, coxo ou  doente e o ofereceis em sacrifício. Posso eu recebê-lo de vossas mãos, com agrado?…

Maldito seja o homem enganador, que tem no seu rebanho um animal são, e fez voto dele ao Senhor, e lhe sacrifica um doente” (Ml 1, 13s).
Com o tempo os mestres de Israel procuravam restringir a prática das promessas, pois podiam tornar-se um entrave para a verdadeira piedade.

Todavia não consta que Nosso Senhor tenha condenado o costume de fazer promessas como tal; ao contrário, no Novo Testamento consta a prática de S. Paulo, que terá sido a dos católicos da Igreja já naquela época:

“E (São) Paulo,  navegou para a Síria (e com ele Priscila e Áquila), depois de ter cortado o cabelo em Cencris, porque tinha feito um voto” (At 18,18).

“Disseram os judeus a Paulo: “Temos aqui quatro homens, que têm um voto sobre si. Toma-os contigo, e santifica-te com eles; e faze por eles os gastos (dos sacrifícios) a fim de que rapem as cabeças; e saberão todos que é falso o que ouviram de ti, e que caminhas ainda guardando a lei” (At 21, 23s).


Em síntese, a prática de promessas não é má, pois a S. Escritura não a rejeita, mas, ao contrário, torna-se objeto de determinações legais, como consta de alguns textos.

Por exemplo,  Números 30,4-6:


“Se um homem fizer um voto ao Senhor ou se obrigar com juramento, não faltará à sua palavra, mas cumprirá tudo o que prometeu.

Se uma mulher fizer um voto e se obrigar com juramento, estando em casa de seu pai e ainda em idade jovem, se o pai teve conhecimento do voto que ela fez e do juramento com que se obrigou, e não disse nada, ela está obrigada ao seu voto; cumprirá de fato tudo o que prometeu e jurou fazer”.
As promessas ou votos não são feitas para atrair favores de Deus como se atrairia de uma pessoa poderosa capaz de ser aliciada por médio de dádivas.

Todavia, ao determinar que nos daria as graças necessárias, Deus quis incluir no seu desígnio a colaboração do homem, levando em conta as orações que Lhe fazemos.


As promessas e os sacrifícios são o testemunho da nossa devoção.

Há pessoas que, depois de receber as graças pedidas a Deus, se vêem em dificuldades e até mesmo impossibilitadas de cumprir o que prometeu.

Nesse acaso deve procurar um sacerdote e pedir-lhe que troque a matéria da promessa.

Esta solução condiz com os textos sagrados que, de um lado, exortam a não deixar de cumprir o prometido (cf. Ecl 5,3), e, de outro lado, preveem a situação dos fiéis e a possibilidade de comutação das promessas por parte dos sacerdotes.

Entre as práticas que mais se podem recomendar, estão as três clássicas que o Evangelho mesmo propõe: a oração, a esmola e o jejum (cf. Mt 6,1-18).

Com efeito, a Santa Missa é o centro e o manancial, por excelência, da vida cristã, vida cristã que se nutre da oração;

A esmola manifesta a caridade para com os necessitados (cf. 1Pd 4,8; Tg 5,20; Pr 10,12);

O jejum e a mortificação purificam-nos das más paixões e nos fortalecem na prática da virtude.


Se a promessa levar-nos ao exercício destas boas obras, certamente será salutar.
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