1. Uma ideia errada de Liturgia
Uma primeira causa dessa defasagem litúrgica é uma concepção errada do que é a Liturgia, seja porque já em sua capela ou comunidade as celebrações eram “inculturadas”, “dinamizadas”, “criativas” e “participativas” (claro, tudo no sentido negativo da palavra), seja porque recebeu todas essas coisas como naturais e, portanto, corretas.
Conheço uma paróquia onde há uma intensa busca por fazer que a Liturgia seja participada pelos fiéis. É um ótimo pensamento, mas deve-se ter muita atenção ao modo ou forma de participação. Por exemplo, nessa mesma paróquia tem-se a ideia de que participar é tomar parte mesmo na ação sagrada ou fazer ou sentir alguma coisa na Liturgia. Por isso, para ressaltar a comunhão entre os fiéis, chegou-se mesmo a distribuir logo após a Comunhão uma tacinha de vinho e um salgadinho… (sim, um salgadinho desses servidos em coquetel ou festinhas!). Num desses dias em que vieram me dá o vinho e o salgado, eu disse: “não obrigado!”. Então me disseram que eu era um “mau educado”, um “tradicionalista”, “tridentino” etc…
Provavelmente pessoas com essa mentalidade não são assim por maldade, porque querem cometer sacrilégio ou algo parecido. Estamos diante de uma má formação da ideia sobre o que seja mesmo a Liturgia. E essa má formação para chegar às paróquias começou muito antes… lá no seminário…
2. Formação deficiente dos sacerdotes
Infelizmente assistimos a um aumento vergonhoso do carreirismo, ou seja, tendo vocação ao não (que é o mais comum), o rapaz vê no sacerdócio um meio de vida, um modo de auto realização… uma oportunidade de vida. É como se dissesse: para cavar não tenho forças, para pedir tenho vergonha: o jeito é ser padre mesmo! O grande problema aqui é que assim ele se torna mais aluno do que seminarista, e o seminário será para ele mais republica do que casa de formação. Deste modo o padre acaba sendo mais intelectual do que homem de oração, ou o que é pior, torna-se o homem do “povão”, da Missa que “emociona”, que “mexe” com as pessoas, etc.
Quantos anos tem a Instrução Redemptionis Sacramentum? Será que nos seus sete ano de seminário nunca ouviu falar sobre este documento? É triste perceber que em muitos seminários (e conheço vários) a Liturgia é algo secundário, objeto manipulação e meio de expressão pessoal e não da Igreja. É o frade que celebra só com a estola sobre o hábito, ou o padre que celebra só de estola, sem túnica ou alva… Agora me lembro de um encontro vocacional que participei e lá o “promotor vocacional” concelebrou só com a estola afro sobre sua camisa de malha… conheço um seminarista que logo na primeira semana de seminário foi chamado atenção pelo reitor porque na hora da comunhão a Hóstia consagrada e comungou sem ir molhar (intingir) por si mesmo no Sangue que estava sobre o altar, como todos faziam…
Não digo que o defeito esteja na parte intelectual em si, mas na parte doutrinal e litúrgica. Em certo seminário alguns seminaristas se viram complicados porque se recusaram a “comungar” tapioca (beiju ou biju, dependendo do lugar) que teria sido consagrada numa Missa na quadra do seminário.
Esse defeito, essa deficiência na formação se refletirá no modo de ser padre. A pessoa precisa ser muito equilibrada, do contrário cairá nos extremos: ou será um padre ruim porque repete todas essas maluquices em seu ministério, ou será um padre ruim porque é extremamente rígido, mesmo nas coisas em que pode fazer de um modo melhor de acordo com a realidade dos fiéis.
3. A criatividade litúrgica
Primeira coisa a deixar claro é que a criatividade não é nada litúrgica. Aqui identificamos dois sujeitos: as comunidades de fiéis ou alguns fiéis em particular que se colocam à frente das “equipes de liturgia”, e os próprios padres.
Não raro encontramos a digníssima equipe de “liturgia” agindo como verdadeira moderadora ou liturga, dotada de poderes para tirar, omitir ou acrescentar algo nas sagradas cerimônias, isso quando não criam totalmente suas próprias liturgias, liturgias que tem sua “cara”, que reflete sua “realidade”. E assim, a cada celebração sentem a necessidade (diabólica) de “dinamizar” para tornar a Liturgia “participativa”, seja com uma monumental entrada da Palavra um quibane, num coco, num carro alegórico ou descendo da cúpula da igreja; ou ainda fazendo uma coreografia ou encenação do Evangelho; ou, o que é pior, a realização de Missas temáticas: missa do vaqueiro, missa da consciência negra, missa gaucha, missa sertaneja, etc. sem falar da “missa-show”, cada vez mais comuns nos grandes centros.
Em meio a tudo isso, encontramos padres que pensam que sua missão é atender e seguir essas “liturgias”, isso quando não são eles mesmos os seus instigadores. E os que vêem no sacerdócio um meio de vida acham aqui uma mina de ouro: platéia garantida, audiência, “banda”, “palco”, etc. Quanto mais “próximo” do povão melhor, não importa se a Liturgia, o culto de Deus, fica prejudicado…
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